7 de abril de 2006

Homo Sapiens

Marcos Morgado, 21/03/06

Ela futuro, presente, passado, nesta ordem.
Ele agora, desordem.

Ela sexto sentido, intuição, sensibilidade.
Ele cinco sentidos, visão, sexualidade.

Ela sonho de um grande amor, poema que escreva com os olhos, abraço que lhe proteja, despedida que não se consuma, reencontro que espere ardente.
Ele desejo de grande conquista, carinho que lhe seja táctil, abraço que presto desfaça, adeus que fácil acene, retorno que periga a dúvida.

Ela carta perfumada, papel macerado, laço com mecha de cabelo. Cartão com flores e crianças, dois tickets de uma última seção cujo beijo que não lhe sai da memória.
Ele email, assinatura digital, powerpoint musicado clonado por mil casais. Envelope padrão via avião verde amarelo escrito à bic fina.

Ela banho demorado, água morna e sabonete que esfolia a pele que nunca perde o brilho e maciez. Tez macia que assimila o perfume por meses a fio.
Ele chuveiro compulsório, água gelada e espuma sem identificação. Loção e spray sem perfume em ambas desgrenhadas axilas.

Ela creme nos pés e mãos e joelhos e costas e pescoço e colo e em todas as curvas perigosas e covinhas e na taça do umbigo.
Ele polvilho nos pés, cortador de unha, pente e cabelo para trás.

Ela olhos vidrados nos olhos por minutos a fio. Dedos suaves escrevendo seu nome nas costas dele.
Ele olhos velozes por toda extensão em segundos. Dedos rijos sulcando as curvas dela.

Ela abraço que valha o mundo inteiro, beijo que dure uma eternidade. Mergulho que caiba nos braços, sede da alma inteira, amor que nunca sacia.
Ele abraço que dobre o mundo, beijo que passe minutos. Vontade que não cabe nos braços, fome do corpo inteiro, amor que nunca sossega.

Ela penumbra que lhe faça cúmplice, Ele corpo que se leia em braile.

Ela permissão para morada, luta que abaixe a guarda, calor que se esvai dos poros. Labirinto que percorra a mente. Cego vôo que consinta alada.
Ele em que a porta adentre, terreno que lhe marque posse, tesouro cuja arca invada. Fôlego que aquece a nuca, força que flexione o ventre.

Ela morte de onde volta lívida. Lágrima que derrama grata.
Ele luta de onde volta célebre. Sorriso que lhe entrega farto.

Ela folha pendida, lenço dobrado, licor que lhe derrame o cálice.
Ele galho partido, gota de vela que derrama o castiçal.

Ela amor pra vida inteira.
Ele a vida inteira de amor.

1 Comments:

At sábado, abril 29, 2006 12:21:00 AM, Blogger Rina Pri =) said...

lindo texto. é bem por aí, não é mesmo? Coloquei lá no Resumo, ok? Coisas bacanas precisam ir pra frente ;)
ótimo final de semana!

 

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