16 de setembro de 2005

Começando do começo,né?

Para inaugurar nosso Blitz no Blog, ressuscitei uma poesia do final dos anos 80, que enfoca a omniscopia de Deus e a microscopia do homem. Abra teus olhos e leia!
Teus olhos

Dc. Marcos Morgado
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    Onde quer que você vá,
    Em qualquer tempo,
    Há dois olhos sobre você.
    Na madrugada, imerso no sono,
    Quarto em trevas, dissipa a bruma,
    Te olham, te vêem.

    Ao acordar, novo dia:
    Eis os dois olhos sobre você.
    Cada passo, dobrar a esquina,
    Subir a calçada: eles te vêem.

    Te enxergam nos empreendimentos,
    No lento andar da fila do caixa.
    Na impaciência, na calma, no falar,
    Na compra, no banho, na dúvida, no medo.

    Contemplam em teu rosto a lágrima.
    Vislumbram no íntimo o ódio.
    Vêem tua farsa, teu inescrupuloso olhar
    Cuspindo fagulhas à quem passar.

    Ao prato observa o teu comer apressado,
    Tua falta de tempo gerando ingratidão.
    Vêem tua dor, teu asco, marasmo, ironia,
    Tua fé, tua palavra dura, língua ferina.

    Ao subir no ônibus, perigo iminente,
    Sobre ti, inocente, dois olhos estão.
    Nas tuas ofertas, nas tuas mãos abertas,
    Liberalidade, no partir do pão.

    Ao sentar num banco, ao entrar na igreja,
    No momento em que oras, te deitam a visão.
    E, ao findar o dia, tristeza ou alegria
    Estes olhos enxergam em teu coração.

    E os teus olhos, a estes olhos não levantas?
    Não contemplas quem te olha e te dá a mão?
    Te enxerga quem é invisível.
    Te esquadrinha, te mira, te vê.
    Pois, onde quer que estejas,
    Em qualquer tempo,
    Há dois Santos Olhos sobre você.

Publicado no jornal Agape,
da IgrejaBatista Nova Peniel, em 25/07/89